domingo, 22 de maio de 2011

Empatia

Tenho sentido o frio da natureza
Deitada na minha cama,
Enrolada no cobertor.
Tenho chorado por amores
Que vejo apenas no televisor.
Tenho rido de piadas
De personagens de meus livros.
Tenho amado e odiado as letras,
As únicas que estão sempre comigo.
Tenho suspirado por quem não existe
Por ser de outro e não meu.
Tenho me cansado de discussões
Em que meu nome nunca apareceu.
Tenho sentido o ar rarefeito
Das montanhas que não escalei.
Tenho sentido as dores do parto
Do filho que não é meu.
Tenho sentido o medo
Dos terrores das imagens.
Tenho casado com os noivos
De outros casamentos
Que vi apenas de passagem.
Pensamentos!
Minha vida em pensamentos...
Que medo é viver no real ordenamento
Desse mundo que a maioria nunca conheceu.

(Stella Araujo)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Metáfora

Os olhos são a janela da alma
E dentro deles existem
Olhos que vêem
Através da janela da alma,
Que vêem através da janela,
Que vêem ad infinitum
Através da janela.
Olhos que vêem no escuro
A transfiguração.

(Stella Araujo)

terça-feira, 10 de maio de 2011

Trilicidade

Deve haver algo
Entre a tristeza e a felicidade.
Algo que caracterize equidade,
Algo justo como se propõe o filósofo.
Resolvi nomear esse sentimento:
Trilicidade.
A terça parte,
Não em hierarquia,
Mas em descobrimento,
Pois na ordem natural
O homem descobriu a felicidade,
Tropeçou nela
E descobriu a tristeza.
E hoje eu,
Grande navegadora de mim,
Descobri que sou também triliz.
Não é algo que caiba em verbete,
Se sente e pronto.
Nenhum sentimento cabe no dicionário,
São do tamanho do mundo.
Hoje estou triliz.

(Stella Araujo)