segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Esperanças

Ismália, volte já para cá!
Esses teus sonhos e loucuras
Jamais vão se concretizar.
Volte à terra que é teu lugar.
Jamais houve humano
Que sem asas soubesse voar.
Saia de tua torre que te prende.
Tire do alto da janela
Teu corpo que pende.
Nenhum sonho é da gente.
Ponha no chão teus pés
E nunca mais se tente.
Esqueça teus desvarios
Antes da última entente.
A lua não te aceita,
o mar não te entende.
Lembre-se do que você semeia
E tire já os pés da areia.
Não se perca nas ondas,
Nem na voz da sereia.
Não desista da peleia.
Não siga com os olhos
Esse moinho que devagueia,
Pois ele vai empurrando
Essa tua boca cheia.
O mundo gira por si só todo tempo.
Não há nada que você possa fazer
para seu próprio salvamento.
A loucura te toma,
meu choro me destrói.
Lá se foi mais uma
Para o céu de todos nós.

(Stella Araujo)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Ruas que passam

Hoje eu andei por essa rua que já foi minha,
Onde ladrilhei todas minhas histórias de                                                                        [infância.
Pedrinhas de brilhante que cintilam apenas                                                            [na memória
E pelo asfalto que corri quando criança.
Nessa rua tem uma dormideira
que bocejando me cumprimentou.
Meu toque a fez voltar a dormir
E com um novo sonho me deixou.
Daqui cem anos volto para acordá-la.
Não sei que novas esperanças terei até lá.
Lembrei do monte que avistava dali
Quando tantas vezes em solidão me                                                                          [encontrava.
Sentei na calçada de cimento
Onde me machuquei e lamentava.
Dona Maria ainda mora aqui,
Olhou-me curiosa enquanto eu passava.
O sol ainda é o mesmo,
A casa não mudou,
Mas há algo diferente,
algo que não se inteirou.
Sinto no peito o deslocamento
que a distância proporcionou.
O que era saudade agora já acabou...
Já não é mais a minha rua essa que passou.

(Stella Araujo)

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Locomotivas pelo mar

Diz o que tem pra me dizer,
Mas por favor diz rapidinho
Que o tempo é passarinho
E é difícil de ceder.
Diz o que tem pra me dizer,
Pois o trem já vem zumbindo,
E eu aqui nesse nimbo
Não sei mais o que fazer.
Diz o que te atormenta
Que eu não vou esquecer.
Talvez o que te tenta
Venha de mim tentar você.
Diga logo que o apito grita
E o sino salpica adeus pelo ar.
Nada disso fica
Só as palavras bonitas
Que espero você contar.
Agora o trem já se achega
E você nem para chegar.
Venha que sem tua imagem
O vazio será a última desse lugar.
Não posso refletir teus olhos
Por que você não vai chegar.
O tempo que já passou
Para ninguém retornará.
Agora já é tarde para lamentar.
O trem já está partindo,
Se preparando para zarpar.
Navegará pelas águas do choro
De quem você provou não amar.


(Stella Araujo)

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Lembranças

Fotografias caem do céu,
Como uma tempestade de lembranças.
Flashes rápidos de uma vida inteira,
Desde meus tempos de criança.
Impressões de apenas mais uma passageira
Desse mundo que gira e não descansa.
E que escreve novos versos no infinito
Como música para uma dança.
Versos e fotos de uma peça que está durando toda uma vida.
Uma atriz de dramas, comédias e ação,
Mas comedida.
A Chuva cai e escorre por meu coração
Esse é feito de porcela, frio e sem expressão.
A chuva cai e bate nesse solo que parecia tão seco.
A chuva entra pelos poros desse rosto de areia e gelo.
A chuva fez nascer rosas desse solo podre de esterco.
A chuva faz nascer da semente um mundo inteiro.

(Stella Araujo)