sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Martelo agalopado I

A linguagem é um corsel domado
Que o poeta cisma em tornar selvagem.
O que diz não realiza, é miragem.
Quando em prosa tão forte puxa o arado,
Quando em versos sai louco e danado.
Acontece que isso é liberdade,
Já existe há tempos sem idade.
Mas eu sou amazona destemida
Já conheço um tanto dessa vida.
No galope encontro a verdade.


(Stella Araujo)

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Autoconhecimento

Entro em mim armada até os dentes
De pensamentos um pouco mais crentes.
Minha mente é inóspita, violenta,
Cheia de pré-conceito e tormenta.

A humanidade é má, sempre sedenta.
Por poder e fortuna a todos mata.
Mata a alma dos bons, dos reverentes,
Mas entre nós há sempre os renitentes.

Prossigo em minha luta contra mim,
Contra a ignorância que me habita...
Essa guerra que sei ser infinita.

Pior acreditar que eu sou perfeita,
Melhor saber quem sou e então reflita.
Meus pensamentos não são um jardim.


(Stella Araujo)

domingo, 25 de agosto de 2019

Decomposição morfológica

O corpo é banal,
Vestígio de poeira cósmica.
A alma não...
É infinita,
Não retorna ao chão.
Permanece em tudo que tocamos.
A vida, substantiva, é eterna.
Viver, ação, é que acaba.

Nascemos do verbo
E ao verbo retornaremos.

(Stella Araujo)

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

No mar Icariano

O que eu senti me deu asas de cera,
Liberdade em voar plena em ardor.
Mas você era o sol que me obscurecera
Com seu sorriso e brilho tentador.

Derreti com seu jeito sedutor
Que no final nem mesmo me valera,
Que me fez arriscar e não me opor,
E então despencar em queda mortífera.

Perdi todas as minhas finas penas.
Elas jazem nessas águas serenas
De ousadia que é minha sepultura.

O sol mata insensatos às centenas.
Meus ossos em ruínas obscenas:
A queda é coincidente com a altura.

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Momentum do tempo

Todos nascemos doentes do mesmo mal:
Somos todos vítimas de um tempo final.
Esse sujeito que como o vento não se vê.
Não há tempo no relógio, na sombra ou na                                                                               [TV.
Doença implacável que não tem cura,
Enruga a pele e deixa a mente escura.
Desfaz os laços e leva os amores
Cria tantas feridas e tantas dores.
Não é por outro motivo que morremos
Que não pela medida de vida que nos cabe.
Uma pena que nunca soubemos
Morrer de forma digna de verdade.
Não há dignidade na vida.
Não há beleza na eternidade.
Só vive quem sabe que morre
E essa é a verdadeira liberdade.
Não há mal que o surpreenda,
Nem incidente que o assuste.
O tempo é deus soberano
E com ele não há ajuste.


(Ella Maria)

quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Procrastinação

O óculos deita sobre minha mesa,
Já não tenho nem uma só certeza.
Os livros empilhados na estante
E minha mente voa tiritante.

A situação é periclitante,
O status não volta pro quo ante.
Como um sistema de autodefesa
Os deveres parecem ser proeza.

O corpo entra em tendência de repouso,
Sinapses e cérebro incluso.
Não consigo fazer porra nenhuma.

Ansiedade me deixa em parafuso,
Meu cérebro está muito confuso.
Pelo menos poesia eu fiz uma.


(Ella Maria)

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Maré alta

Meus pensamentos
são ondas que
cobrem
e
descobrem
finos grãos
de sentimentos.

Há risco de alagamento.

(Ella Maria)

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Sinfonia

Um dia
ainda conserto
o desconcerto
que esse
concerto
fez no meu
coração
Desconsertado.

(Ella Maria)