segunda-feira, 27 de maio de 2019

Fastígio


Sentia o cheiro de amor
O som das cores de abril
Um sabor forte e pueril
De um sentimento de dor

Um desejo juvenil
Viril e perturbador
Fluindo em pele febril
De um olhar perscrutador

Roçando por entre os dedos
Descendo por meus cabelos
Sinto sua respiração

Se vão todos nossos medos
Se apoderam de meus seios
Desfalecem num colchão.

(Stella Araujo)

Desassossego

Segue forte caudaloso
o rio na chuva.
Arrastava as margens
da cidade,
da vida selvagem,
e da racional também.
Meu pensamento ia...
Escorria...
Com a água podre,
o cimento,
o lodo.
Descia um barco,
um tripulante
à deriva na corrente.
Fino feito folha,
veloz ao sabor do vento.
Era frenética,
exaustiva,
a luta da corrente,
do barco,
da minha mente.
Fluíam nas águas
descendo pela calçada
passando pela sarjeta,
na boca de lobo
dessa rua indigente
que é o coração da gente.

(Stella Araujo)

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Subúrbio Carioca

Amo cada uma de tuas esquinas,
Teus pipoqueiros,
O caldo de cana e pastel
Nos botecos da suburbana.

Onde sempre toca
As marchinhas do Kéti
E o cavaquinho do Nelson
(Centenário da Mangueira).

Amo as cadeiras nas calçadas,
A meninada que se esbalda
Jogando descalça 
Na rua e na ladeira.

Aquele abraço pro jorge Ben,
Noel, Cartola e Paulinho,
Que nasceu em Botafogo,
Mas fez fama em Oswaldo Cruz.

Amo as amendoeiras
Os parquinhos de areia
Com o Cristo de costas
E os chinelos que são trave.

Diga ai que saudade
Do Pixinguinha, do Jacob
E do rei da voz,
O Chico Alves.

Amo o rolimã descendo a rua
O samba que toca de fundo
Que é partido-alto
Entre os mais antigos.

Um beijo para a Beth,
Para o Arlindo, Dona Ivone,
O Zeca (do pagode)
E também o Martinho (da Isabel).

Sua história e suas casas
O pagode no churrasco.
Suas ruas, seus becos 
E os barracos em cascatas.

Todos juntos no Zicartola,
E no Cacique,
No fundo do quintal
De cada escola do carnaval.

(Ella Maria)