sábado, 28 de setembro de 2019

Inefável


Gosto do que não posso nomear:
Do que não é conceito, mas empírico;
Do que não é matéria, mas espírito;
Do que é esperança, não certeza.
Não passo eu mesma de breve poeira...
Uma humilde existência no universo.
Sou grão de gente, isso eu bem sei,
Mas não há nada mais belo que ser;
Nada mais bonito que existir.

E o amor que rege todo cosmos
Sintetizo em ser e sempre estar.

(Stella Araujo)

terça-feira, 17 de setembro de 2019

Interlocutor


As reticências que eu pus em nós
São sintomas da minha insistência
Em prolongar o que já teve fim...
As vírgulas que estão após seu nome,
Vocativos da tua breve presença,
São pausas que indicam tua ausência.
Te prendi num aposto explicativo
Dos sintomas da minha inocência.

Tu és, assim, sujeito tão oculto
Que não sei quem és além da aparência.

(Stella Araujo)



terça-feira, 10 de setembro de 2019

Da Morte


A Morte é um não mover.
É a substantivação do verbo
E o momento da medida de tudo:
Do livro inacabado,
Das palavras silenciadas,
Do tempo perdido.

A Morte não é a ausência da Vida,
É a ausência do Viver.

(Stella Araujo)

domingo, 8 de setembro de 2019

Hipocrisia


No breu do preconceito se esconde
E está longe do cérebro e razão.
Não sei onde se oculta desde Adão,
Nem a qual dos pecados se responde...
Nem que o peito do homem então sonde
Saberei dizer sua localidade.
Seja a inveja talvez sua mãe e deidade,
Ou quiçá seja sua amiga a mentira
Que está sempre a espreita na cegueira
Dos que creem conhecer toda verdade.

(Stella Araujo)

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Lua cheia


A saudade matei de fome e sede
Pra que ela não mate o meu melhor,
Mas eu sei cada traço seu de cor.
A tua falta me aperta amiúde,
Mas não há sentimento que eu desnude.
Eu te sinto presente feito onda
Vai e vem com a maré que é impulsionada
Pela lua que brilha em noite cheia.
Feito água, escorre e me meneia.
De você, então, me sinto alagada.


(Stella Araujo)



domingo, 1 de setembro de 2019

Grão

Vivo livre no vento a voar,
Meu contento é não ser e sempre estar.
Não sei pra onde vou nem que farei,
Sou dono de mim como um grande rei.

Viajei, conheci tanto lugar...
Difícil pensar que em ti quis ficar.
Desci ao chão e no solo brotei
Abri mão de mim isso eu bem sei

Descobri que não passo de poeira
Dessas que não têm nem eira nem beira.
É triste se olhar assim em retalho.

Renasço em um broto de sementeira
E agora sei que a vida é passageira.
Desço ao solo, mas meus ramos espalho.


(Stella Araujo)