quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Ciranda do Ninho

Esse amor é passarinho,
Chega assim devagarinho.
Chega e sobe pro telhado,
Fica perto assim do lado.

Faz casa num burburinho.
Pia! Pia! Assim no ninho.
Deu então fruto sonhado
Feliz lar que havia achado.

Voou pra longe da palha
O alado que ali morava.
Ai! Ai! Que o Senhor me valha!

Sentia falta da migalha
Que o morador lhe dava
Com coração em mortalha.

(Stella Araujo)

domingo, 24 de novembro de 2013

Soneto da Liberdade

Subiu no cerúleo mágico do céu,
Soltou faíscas carmim das labaredas.
Tornou-se assim só não mais que escarcéu
De doces e amargas emoções azedas.

Sentiu no vento o leve toque de um véu
Que lhe cobria a face pelas alamedas.
Notava assim apagar o fogaréu,
O triste fim que têm todas as labaredas.

Queria ser então alado lagarto,
Rastejar e voar com a mesma clareza.
Contudo, mais sentia-se ainda farto:

“Não sou quem quero neste vazio quarto!”
Fugiu de barco e subiu a correnteza.
Deixou essa vida e todas as certezas.

(Stella Araujo)

sábado, 23 de novembro de 2013

Amor francês

Conta-me Vinícius,
Os segredos do amor,
Do drama e da dor.
Explica-me este alvoroço
Que me adoece,
Mata-me pela amargura.
Eu amei.
Ah! que bonito amor!
Chorei todo o sentimento
Como pus de uma ferida infeccionada.
Ele tinha aquele je ne sais quoi.
Irradiava de perfeição.
Sonhei que sonhava com ele,
Dormi abraçada às lembranças.
Acordei em desespero,
trêmula e em suor.
Perguntaram-me com que sonhei
E por que sorria.
Com um simples:Je ne sais pas!
Repliquei.

(Stella Araujo)