sábado, 28 de dezembro de 2019

Metapoema III

Se pensas que há sofrimento nestas letras,
Ou que meus versos choram saudades,
Saibas que lavo as mãos.
Depois que nasce o poema
E se consuma o parto
Este parte pro mundo.
O poema desabrocha solitário
Sem pai nem mãe.
O poema sai pelo mundo
-do leitor-
Sem parentes ou amigos.
É mundano, cortesão de vida fácil,
Se entrega a qualquer letrado.
O poema se entrega ao teu prazer,
Diz o que queres ouvir,
Não tem vontade ou querer,
Não passa de um devir.

(Stella Araujo)

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Signos linguísticos

Inquieto-me com o nome de todas as coisas
E creio que no nome - na palavra -
Existe uma essência divina
Que recobre a substância de significado.
Como se na semântica do ser
O que é próprio atraísse certos interesses,
Coisas tão nossas.
Aquieto-me em meu nome,
Sendo tão eu, descanso em minha acepção.
De uma forma maior que a dos horóscopos
Sinto que as palavras regem o universo e,
Ainda mais que os planetas,
São as letras os sinais que
Formam os mapas astrais.

(Stella Araujo)

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Ignoto

Sinto um poder que emana
Do choque da audiência,
Do pavor do público.
E quando os que me assistem
Arregalam os olhos de espanto,
Só ai estou satisfeita.
Porque a vida só faz sentido
Quando espavorida pelo novo,
Quando se esclarece o obscuro
Para que então se repita o ciclo
Através do tempo.

(Stella Araujo)

sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Pausas

É um exercício interessante ler sem limites escrever sem pontos Só não abandono as maiúsculas Não por respeito mas para aumentar a agonia o pranto da gramática

A comunicação é poética mesmo e principalmente quando errática

A vida é bonita mesmo quando o texto não condiz com a norma culta tão pragmática
Deixo para quem quiser pontuar
o tempo da interpretação que faz de si

Stella Araujo

terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Paternogênese poética

Um pedacinho da alma do autor,
Aquele com o maior poder de criação, 
Sozinho por mitose das palavras
Gera os mais belos poemas.
Filhos queridos!
Criados com zelo de mãe,
E disciplina de pai,
Sem estrelas, cruzes ou epitáfios.
Não devem ter aniversário...
São palavras eternas e não datadas,
Lidas por silenciosos leitores
No solitário silêncio do eu.
Estão no coração de quem os escreve,
Mas também de quem os lê.
Pedacinho de vida,
Um complexo arranjo de células,
Palavras que se juntam em diferentes 
                                                             [funções.
Fala, anda e pensa sozinho,
Com verbos infinitos e infinitivos,
De onde surgem as frases e orações
Como louvores para um novo mundo
Baseado no que há de divino em todos nós.

(Stella Araujo)